domingo, 24 de janeiro de 2010

Angustia.

Eu estava sentada naquele ambiente desconhecido pelos meus olhos, pilastras brancas rodeavam o local, o piso de granito, tão belo... Olhava-se para o teto e viam-se belos anjos pendurados e algumas esculturas grudadas nas paredes. Os compridos bancos de madeira enchiam o local em longas filas indianas. O silêncio tomava conta do lugar, eu podia sentir a tranqüilidade bater em meus pensamentos e não querer sair mais. Igrejas normalmente me dão medo, parecem ser um local na qual teus pensamentos estão sendo lidos e tua privacidade é completamente retirada de ti. Mas, essa era diferente; transparecia fleuma. Um grande relógio ficava grudado à parede, podia-se escutar o barulho dos ponteiros movimentando-se, eu não via a hora de ele chegar. Eu não via à hora de poder finalmente reencontrá-lo, de poder abraçá-lo e beijá-lo. Os minutos pareciam uma eternidade, o ambiente parecia cada vez ficar mais frio. Eu precisava do calor dele, naquele instante, eu precisava sentir a respiração dele e arrepiar-me com os toques gélidos e ao mesmo tempo, tão quentes, dele. A cada pessoa que entrava naquele local, eu olhava, e a cada pessoa que eu via que não era ele, era uma decepção. Ele sempre fora pontual, não será desta vez que ele não será. A angustia ascendia a minha cabeça, a saliva parecia ser um veneno que ao ser engolido, doía. Uma última gota de esperança percorria pelo meu sangue fervoroso, eu olhava para trás e em um segundo podia ver os doces movimentos dele seguindo em frente, em minha direção. A minha vontade era apenas levantar-me e sair correndo ao encontro dele; mas, eu não podia. Eu estava em uma Igreja. Permanecia sentada, esperando que seus doces passos chegassem ao local onde eu estava sentada. Em alguns instantes pude vê-lo sentando-se ao meu lado; colocou uma de suas mãos por cima da minha e fechou os olhos, – eu adoraria saber que diabos ele estava pensando, naquele exato momento. – ao abrir seus olhos, soltou um suspiro daqueles que eu me derretia e sussurrou em meu ouvido: "Sabes por que eu escolhi uma Igreja para nos encontrarmos?" Eu respondi um ‘não’ com a cabeça. Ele disse: "Para que a primeira coisa que eu pudesse fazer fosse agradecer a Deus por ter dado-me mais uma chance de tê-la;"

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

21 de Janeiro de 1932. Londres, Inglaterra. 02:08 a.m.

Eu era pequena e não sabia o que era amar. As coisas eram tão simples, eu mal sabia da malícia desse caminho obscuro que me aguardava. Os dias eram ensolarados e as noites claras. Eu podia sentir a brisa fraca do vento tocando os meus longos cabelos ruivos e encaracolados, fazendo-os sacudirem de um lado para o outro. Sentava-me todos os dias em um balanço que havia dentro de um encanecido parque descuidado. Passava horas naquele balanço, olhando o Sol e as borboletas voarem. – As borboletas sempre foram a minha paixão. A forma vívida que elas voam, sempre me cativaram. As cores chamativas e as formas desiguais. Elas me faziam sorrir. – A grama descuidada fazia-me sentir em florestas desconhecidas.

Era só mais uma tarde que eu estava sentada no meu antigo balanço, permanecia detença; apenas sentia os raios solares penetrarem em minha pele como se fosse algum hidratante que rejuvenecia minha pele, escutava o barulho que as folhas das árvores faziam ao balançarem por culpa do vento. Observava as borboletas uma a uma, tentando desvendar o excêntrico mistério que cada uma passava para mim. O céu estava limpo, com nenhuma nuvem sequer. O silêncio fazia-me poder organizar os meus pensamentos, que na época, eram completamente infinitos e bagunçados. – E ainda são. – Escutava de longe algum barulho, vindo de lugar nenhum; aquilo acabara por atrapalhar os meus pensamentos. Virava-me para o lado, para o outro lado, para trás, em busca de algo ou alguém. Desapontada, virei-me para frente, sem ter encontrado ninguém.
– Bu! – Alguém falou calmamente ao me ver olhar para frente, ao mesmo tempo, dei um pulo.
– Oi? – Falava em um tom curioso, tentando arrancar algo dos lábios do garoto.
– Sou o Elvis. – O garoto disse estendendo a mão para mim e soltando um longo sorriso.
– Elvis?! – Eu dei uma risada discreta. – Sou Natalie. Meu nome é Natalie. – Peguei a mão do garoto, cumprimentando-o.
– Elvis! – Ele riu. – Posso sentar-me? – Ele implorou-me, e assim fez, sentando-se no balanço ao lado do meu.

Dias se passaram, semanas se passaram. Eu encontrava Elvis todos os dias, no mesmo lugar e na mesma hora. Ele havia se tornado um grande amigo em tão pouco tempo. Eu que pensava que era feliz, mal sabia o que era ser feliz. Nós ficavamos sentados nos nossos balanços, olhando as borboletas e nos lambuzando de chocolate. – Minha mãe perguntava-me todos os dias porque eu não estava com fome na hora do jantar. – Brincávamos de subir nas árvores e faziamos prédios de areia. Elvis havia me mostrado o que era ser feliz. O que era amar. Eu não queria saber de mais nada, era um amor inocente.

Era um dia de chuva. O inverno estava chegando, eu não podia deixar de ir ao nosso parque. Peguei um guarda-chuvas velho e um casaco surrado, corri para o parque. Sentei-me d’baixo de uma árvore que lá havia e fiquei esperando Elvis. Uma hora se passou, duas horas se passaram. Olhei para os lados, para trás, e, novamente desapontada, olhei para frente, esperando ele. Elvis não apareceu. Levantei-me e vagarosamente andava em diante para minha casa.
– Natalie! – Escutei alguém me gritando. Virei para trás e finalmente, achei Elvis. Corria ao encontro dele e ele ao meu.
– Elvis! Eu estava no parque, eu te esperei... E tu não chegaste! – Abracei-o com toda a minha força. – Eu pensei que ias me abandonar! – Choraminguei.
– Eu jamais irei abandonar-te, Natalie! – Elvis apertou-me, com uma de suas mãos colocou-a na maçã esquerda de minha face. Aproximava-se pausadamente a mim. Eu sentia minhas mãos soarem e meu coração acelerar. Elvis grudou teus lábios aos meus, e abria-os rapidamente, sem muito jeito, penetrou tua língua em minha boca.
Meu coração batia como jamais havia batido antes. Minha respiração estava ofegante; e a chuva... Ah, a chuva! A chuva molhava-nos sem parar um momento sequer.

Alguns dias se passaram, e eu estava de cama. Eu havia pegado pneumonia. Eu não podia ir ao parque, e eu apenas pensava em Elvis. Ele deveria estar desapontado. Eu precisava, necessitava ir ao parque. Encapotei-me com três casacos e duas calças, um tênis sujo de terra e corria para o nosso parque. Elvis estava sentado em teu balanço, olhando para baixo. – Eu posso me lembrar da expressão dele, como se fosse ontem. – Corri e o gritei. Ele deu-me um forte abraço e logo abriu um sorriso ofegante. Eu não parava de espirrar, sentia minha garganta doer, e a toce parecia não parar jamais. Eu estava fraca, mas estava ao lado dele. Desmaiei.

Semanas se passaram e eu pude sair do hospital. Eu podia ver o Sol novamente, escutar os pássaros cantando e sentir o vento açoitar os meus longos cabelos. Mas, nada disso bastava. A única coisa que eu precisava era Elvis. Corri para o parque, sentei-me e esperei-o. Sábado, domingo, segunda-feira, terça-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado. Elvis não apareceu.

Eu estava em casa, remexendo em algumas caixas, procurando revistas e jornais velhos para fazer uma colagem, entregaria à Elvis assim que nos encontrassemos novamente. Eu tinha a certeza de que iriamos no encontrarmos de novo. Ele havia falado que jamais iria deixar-me. Um jornal chamou a minha atenção. Uma manchete grande na capa: “GAROTO SUICIDA”, estava escrito. Curiosamente, estava com uma foto de Elvis, inocentemente começava a ler a reportagem. A cada palavra que eu lia, lágrimas escorriam pelo meu rosto. Elvis havia se matado após ter pensado que eu havia morrido.

Meses se passaram, e agora eu estou aqui, escrevendo essa carta. Eu já não tenho forças o suficiente para viver sem Elvis. Ele me fez crescer, me fez sentir o que eu jamais havia sentido. Ele me fez sorrir, ele era a minha esperança. Era o garoto perfeito; talvez não perfeito para os outros, mas, para mim, era a pessoa ideal. A qual eu amava. Que fazia-me sentir bem, escutava-me. Ocupava meu tempo, fazia-me respirar. Eu não existo sem ele. Então, para que ficar aqui?

Mãe, pai, saiba que eu amo vocês mais do que possam imaginar. Mas, eu já não aguento mais tanto sofrimento. Obrigada por tudo. Obrigada por serem meus pais. Eu nunca irei esquecer de vocês. Não há palavras para descrever o que vocês são na minha vida. Sejam felizes. Lembrem-se: Vocês são tudo.

Agora, dou um até logo para vocês. – Não, não é um adeus, pois iremos nos encontrar em outra. – E saibam que, eu ficarei melhor assim. Eu queria escrever mais, mas, minha carta já está um tanto quanto confusa. Nem eu posso entendê-la mais.

“A morte não é tão ruim assim.”
Natalie.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Querido Papai Noel,

É dezembro. Época de prosperidade, reencontros, esquecer as amarguras passadas, rasgar os estratos bancários antigos, perdoar, amar, presentes. Restaurar, rejuvenescer. Papai Noel, tu és a minha última esperança. Eu já não tenho mais a quem pedir, a quem impugnar. Eu já orei para Deus, mas não adiantou; já pedi para o Coelho da Páscoa trazê-lo de volta para mim junto com algum ovo de Páscoa, mas ele não trouxe, já obsecrei para os meus pais derem-me ele de presente de Dia das Crianças, mas, nada adiantou. Agora, Papai Noel, quem me resta és tu. Eu lhe apelo, dê-me ele de presente, Papai Noel. Faça mais uma criança feliz, nesse universo decadente; no qual eu já não sei distinguir o bem do mal, o errado do certo. Faça-me ter novamente aquele sorriso que eu tinha quando ele ponderava palavras ao pé do meu ouvido, faça-me abraçar alguém novamente, com tanta ambição quanto eu tinha quando o abraçava. Traga-o para mim. Os dias sem ele são monótonos, são nuviosas e maçantes. As noites sem ele são geladas, solitárias, ameaçadoras. Eu vivo em uma constante metamorfose. E eu sinto que sucinto dele para ajudar-me a estabilizar-me. Eu conciso dele para os meus dias tornarem-se claros, para as minhas noites tornarem-se quentes. Eu já não aturo mais sentir frio todas as noites, eu me sinto asfixiada pelas minhas próprias mãos. Eu me sinto morta. Dê-me este presente, Papai Noel. Minha existência não tem significado sem ele. Eu preciso dele para ter o entusiasmo que eu tinha, eu preciso estar com ele. Faço-te este apelo nesta carta fracassada de tentar tê-lo de volta.

Assinado: Solidão.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

6:00 a.m.

Quase seis da manhã, e eu aqui, incólume. Não sei o que ainda estou fazendo aqui, qual o motivo. Está quase amanhecendo, e eu adoro ver o rosado que fica quando cedo da manhã, puder ouvir o som dos pássaros acordando e o sossego da cidade. Gosto da madrugada, ela me faz cogitar. Eu gosto de trocar o dia pela noite. A noite é mais formosa, à noite me cativa, é tudo mais pulcro. Gosto do silêncio. Gosto de poder escutar meus pensamentos sem nem uma interrupção, gosto de poder ficar aqui só por ficar. Gosto de começar a sentir o sono, e logo deitar-me na cama e poder descansar.

sábado, 28 de novembro de 2009

Vazio.

"O professor de Artes havia dado uma folha em branco para os alunos. Uma folha vazia, sem vida alguma. Ele disse que queria que os alunos desenhassem na folha o que eles estavam sentindo, era para eles soltarem a criatividade. Logo, podiam-se ver os alunos empolgados, desenhando coisas surpreendentemente encantadoras. Desde desenhos em preto e branco, até desenhos extremamente coloridos. Ao término da aula, ele disse para os alunos concluírem os desenhos, e trazerem na próxima aula, para que eles pudessem apresentar o trabalho, falando o porquê do desenho, o que ele significava.
Passou uma semana, e a aula de Artes acabara de começar, novamente. O professor sentou-se em sua mesa, e pediu para que um a um fosse à frente apresentar teus desenhos. Uma garota começou, apresentando um desenho extremamente encantador, com cores vivas e fortes. E assim foi, até que só faltava um menino, que estava no fundo da sala, sentado, solitário. O professor o chamou, e ele se levantou, indo até a frente da sala de cabeça baixa. O garoto mostrou para a turma uma folha em branco, vazia, assim como o professor havia entregado.
- Tu não fizeste o dever, meu caro? – O professor perguntou.
- Eu fiz. – O menino respondeu.
- Por que está tudo em branco? – O professor indignado perguntou, novamente.
- Porque tu havias dito que era para desenharmos o que nós estávamos sentindo. E eu me sinto assim... Vazio. Sem esperanças, apagado, em branco. Sem sentimentos. – O garoto falou encarando o chão. O professor observou-o, e logo o sinal tocou, fazendo assim, todos saírem da classe."

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Escape.

“Eu a fitava durante algum tempo. Ela sempre fazia a mesma coisa. Todas as tardes. Ela saia da escola, e ia correndo para uma antiga e abandonada rampa de Skate, na qual ninguém freqüentava. Ela se sentava no alto da rampa, acendia um cigarro e tragava-o vagarosamente. Todas as tardes. Eu andava observando-a a algum tempo. Apenas de olhá-la, ela me fazia estremecer e meu coração bater. Era um dia nublado e frio, eu estava sentado na rampa de Skate antes dela. Tragando um cigarro, com uma bebida ao lado. Eu estava viajando em meus pensamentos, acabei esquecendo a hora, e não pude escutá-la chegar. Ela sentou-se ao meu lado, e fitava-me sem sequer dar alguma palavra. Pude ver dos olhos dela, uma lágrima cair. Sem entender o quê havia, eu levantei-me. No mesmo instante, ela me puxou para baixo.
- Fique aqui. Fique aqui comigo. – Ela implorou-me. – Sentei-me novamente ao lado dela. Fitava-a.
- O quê houve moça? – Perguntei-a com uma expressão de preocupação.
Ela não me respondeu. Ergui uma de minhas sobrancelhas, ainda esperando alguma resposta. Ela tremia, teus lábios gélidos e rosados pelo frio, teus d
entes açoitavam um no outro, o cabelo atirado para trás, por culpa do vento. Retirei o meu casaco, e entreguei-a. Logo, ela se vestira com ele.
- Conte-me o quê houve, uh? – Insisti.
- Eu não aturo mais minha vida. Eu quero fugir! – Ela falou de uma vez só, um pouco calma, mas com uma expressão de alvoroço. – Fuja comigo? – Ela sussurrou séria.
- Tu nem me conheces. – Falei no mesmo tom, com um ar de surpreso.
- E daí?! Fuja comigo! – Ela falava no mesmo tom, com certa ponderação.
- Tu és apenas uma criança. – Falava para ela.
- Não! – Ela soltou um rugido.
- Hoje? – Perguntei-a.
- Amanhã. Ao pôr-do-sol. – Ela continuava a falar com seriedade.
- Estarei aqui. – Dei uma última tragada no meu cigarro e joguei-o fora. Ela se levantou e saiu. Fiquei lá por mais alguns minutos, e logo depois me retirei do local. Cheguei em casa, deitei-me no sofá. Contava os minutos. Adormeci.
Acordei. Já era tarde. A hora havia passado. Fui correndo para a rampa de Skate, com alguma esperança de vê-la por lá. Ela estava sentada choramingando.
- Pensei que não viria. – Ela gaguejou.
- Eu disse que viria. – Eu fitava-a. Ela me abraçou forte, e soltou um sorriso. Ela estava gelada, e estava vestida com meu casaco, que ficara com ela no dia passado. Pegamos o trem.
- Qual o teu nome? – Ela me questionou.

- Steven. – Eu respondi.”

"Eu te amo".

"Achar alguém que nos completa nem sempre é simples. Achar alguém a quem amar, e ser amado, nem sempre é simples. Ser simples, nem sempre é simples. É necessário ser terno e áspero. Creio que raros podem sentir o quão significa aquela palavra tão pequena e suave aos ouvidos, chamada “amor”. Qualquer um pode falar um mísero “Eu te amo”. Qualquer um pode iludir o outro falando tal frase, tão pequena e insignificante. Mas, no fundo, estás apenas enganando a ti próprio. “Eu te amo” é tão comum, que virou clichê. Não se pode mais falar apenas um “Eu te amo” para alguém, porque isto tu encontras em qualquer esquina... Já não se dão o devido valor a tal expressão. Amar e odiar. Duas palavras fortes. Mas hoje, tão clichês. A juventude tornou-as clichê. Demodê. Antes de falar “Eu te amo”, pense duas vezes."